drakemberg

A visão longinqua daquela muralha, que corre de norte para sul ao longo da Africa austral,e à  qual nunca cheguei.ficou-me a recordação.assemelha-se,À  escarpa da chela,Angola,que tem a seus pés o deserto da namibia, que contempla, há¡ milhões de anos numa estenção de cerca de 150 kilometros.

terça-feira, julho 04, 2017

A Tourada

         Estes eram os amigos que, arranjara segundo a roda das probabilidades do destino. E, a minha vida, rodou com a deles e a deles com a minha numa simbiose. Era o tempo, da descontração e da irresponsabilidade rodando lado a lado. Quando juntos, se um dizia mata, os outros diziam esfola, e para reforçar o que digo, vou contar uma história que, ainda hoje me faz saltar gargalhadas bem estridentes. Corria o ano de mil novecentos e cinquenta e seis. Um dia, estavamos a malta todos reunidos no Gelo e há um que salta com esta? E se a malta realizasse uma tourada! Os outros riram-se numa espécie de gozo. Parecia uma proposta sem cabimento, mas enganas-te! Pois no ano anterior, tinham estado em Luanda, toiros e toureiros para a realização de corridas na praça de Luanda, ali mesmo à estrada de Catete. Após um tempo de reflecção; todos responderam; e à uma perguntaram estamos à espera de quê! A partir daquele dia, não se falava de outro assunto e a coisa começou a tomar forma. Primeiro lentamente, depois num crescendo. O primeiro empurrão, foi dado pelo amigo Araújo, como era ele que, compunha as chapas para a feitura do Diário de Luanda, ele próprio garantiu ali mesmo a publicidade da mesma. Vencida a força da inércia, galopou-se por ali acima até à realização da corrida. Acho um feito extraordinário, pela simples razão de, à partida nenhum de nós ter dinheiro, nem para pensar, quanto mais realizá-la, éramos todos uns tesos. Mas realizou-se! A que preço? Vamos ver. Segundo empurrão, o Peralta, como tinha aquela voz de falsete tão comum nos cantores líricos, pois essa característica serviu-lhe às mil maravilhas para, de mansinho, dar a volta ao padre Pereira administrador duma rádio local, venceu-nos praticamente todos os obstáculos de cariz burocrático. Autorização da Câmara Municipal, da Inspeção de Espetáculos e das Obras Públicas para a autorização. O grupo sabia exatamente que, no ano anterior estiveram em Luanda dois toureiros que, na altura estavam no Top, eram eles, o Manuel dos Santos e o Diamantino Viseu, Sabíamos exatamente onde os touros se encontravam. Estes que, ao contrário dos outros costumam ser abatidos após as lides, foram comprados por um criador de gado que, tinha uma fazenda em Caquila para os lados de Calumbo para cobrição? Era o dono duma grande padaria, que dava pelo nome de Lafões muito conhecida ao tempo em Luanda. Depois de conversações com ele, concedeu os touros para a dita corrida. Este facto causou grande animação entre a malta que, bebeu uns copos para comemorar. Foi de facto um grande pontapé de saída. E tão bom foi, que o Araújo fez para impressão no Diário de Luanda, o primeiro anúncio referente à dita corrida, o que deu origem a que, o assunto que estava em privado, na posse de meia dúzia de amigos, passou para rua e o assunto começou a ser badalado em toda a Luanda, num crescendo que não mais abrandou. A inspeção dos espetáculos, já tinha dado autorização provisória. As Obras Públicas exigiam uma carga nas bancadas, para as poder testar. Este pormenor, foi um contratempo, mas  durou pouco. O suficiente para o Peralta com a tal vozinha de falsete contatar, com a cimenteira e que foi positivo, tornou possível, levá-los a disponibilizarem a tonelagem de sacos necessária, para testar as ditas bancadas, a mão de obra fomos nós. Assente nas OP o dia da inspeção, foi complicado e Foi um dia de trabalho intenso. Com a praça aprovada, foi um corrupio até à data da sua apresentação. A publicidade pelas ruas de Luanda, começou principalmente às horas de ponta, com posters e musica. O Diário de Luanda com as suas caixas, os treinos com o carrinho simulador do touro eram constantes. O António, o Dinares eram os toureiros oficiais da corrida. Isto é os cabeças de cartaz eram uns amadores, mas o gosto estava-lhe bem entranhado no sangue, pele sua origem no Ribatejo. O António antes da tourada sonhava! Hei-de levantar aquela praça, ou será um fiasco, e para tal vou começar com uma torneada tipo chcuelina de joelhos, que vai ficar na memória. O Dinares dizia o mesmo! Andaram empolgados até à data da mesma. Eu era um peão tipo de brega mas para ser franco não percebia patavina de termos tauromáquicos. E depois  os meios que via no terreno, me ultrapassavam éramos todos uns tesos E eu me admirava de todo aquele aparato! Tinha vinte anos, estava bem embrenhado no êxito da coisa. E já que chegara até aqui não era homem pra desistir agora. Coube-me, ir com mais dois a Caquila nas vésperas da tourada buscar os touros. Eram seis que, foram metidos nos currais da praça. Por conversa dos irmãos Peres apercebi-me que havia, qualquer coisa que não jogava bem. Mas, como era amigo deles, nem sequer pensei em traí-los, acompanhei-os até ao fim. Apercebi-me também que, dos entusiastas iniciais, alguns, ficaram pelo caminho, no grupo e na parte final, estavam só, os ferrenhos os aficionados, e assim correu tudo até ao dia da tourada. No dia da grande festa, o povo começou a chegar e a entrar, a moldura se foi compondo, A polícia que, como é praxe em todos estes espetáculos lá estava, como manda a lei. De vez em quando, alguém ligado às bilheteiras pedia a este ou àquele para guardar dinheiro, dezassete contos da primeira vez, e mais doze da segunda, foram as importâncias das quais fui fiel depositário até ao fim da corrida. Acentuavam que, era para não estar tanto dinheiro nas bilheteiras. E a praça encheu! Dera de receita, à volta de cento e cinquenta  contos, contas feitas antes. A tourada começou com aquele toque de clarim tão tradicional neste tipo de eventos, e o primeiro toiro saiu! Saiu e empolgou o público. O António entrou e tal como tinha prometido, começou a andar com aquele andar enviesado e gingão tão característico dos toureiros e dizia! Toiro é toiro, e repetia, toiro é toiro, cabrão e tanto chamou nomes ao animal que, este furioso, lhe fez a vontade e veio. Baixou os cornos e o rapaz ali á sua frente, de joelhos como prometera, naquele momento reconheci ao António um alto grau de coragem. Mas as coisas, se precipitaram e o António, nem tempo teve de se levantar, pois o touro lhe fez esse favor. Correu para ele de cabeça baixa, e lhe enfiou um corno não sei como, pois as calças de toureiro são bem curtas e justas como sabeis, o corno entra-lhe pela perneira do lado direito, o Peres coitado, sem saber como, é elevado a uma altura de dois metros, rebolando no ar como se fosse um brinquedo com o qual o toiro se dava ao luxo de brincar. De repente, baixou a cabeça com o António pendurado pela dita perneira, e sacudiu-o violentamente contra o solo, os capeadores se aproximaram tentando captar a atenção do quadrupede, afim deste, largar o António o que aconteceu. Coitado do António, ficou muito combalido. Mas pensas que se deu por vencido? Nem pensar. E no meio da arena, branco como a cal, incitou o toiro novamente! Ele novamente lhe fez a vontade! E avançou violento. O António já sem a perneira das calças aguardou o toiro com aquele trejeito tão característico nos toureiros cabeça baixa, compenetrado e centésimos de segundos antes do embate com o toiro o António fez uma torneada ao longo do corpo do animal, saindo de seguida com aquele ar esticado e estriado de desprezo para com o quadrúpede que, a poucos metros, olhava para ele, incrédulo, mas sem poder de reação. Que linda Verónica, foi aqui que o António arrancou daquele público que parecia de pedra uma reação e foi amplamente aplaudido. Bem o mereceu, continuou na lide fazendo ainda lanços, de bom recorte até ao fim da sua faena. Seguiu-se-lhe o Dinares que no primeiro embate com bicho levou tal porrada que quase desmaiou. Mas tal como o Lena, continuou e brilhou com uma série de passes de boa feitura, seguiu-se uma pega de caras capitaneada pelo Cois bem sucedida. Aqui foi convidado um espectador para uma pega. Mas apareceram muitos, tanto que à conta disso se consumiu largo tempo. Foi neste lapso de tempo que, estranhas movimentações nos bastidores se tornaram claras, um dos irmãos Lenas se aproximou e me pediu o dinheiro que, previamente me fora confiado, vinte e nove contos que passei para as suas mãos. De repente se instalou a confusão, pois a toirada deixou de ter seguimento, todos olhavam uns para os outros, sem saber o que estava a acontecer, foi o caos, e dele cada um se livrou á sua maneira. Foi a última leviandade da minha juventude! Nos dias que se seguiram, apurei que dos irmãos Lenas nem sombras. Eclipsaram-se desde aquele dia à noite, diz-me o Amorim dono da pensão onde todos estávamos hospedados? Soares o Lena pagou-lhe três mesadas! E o Amorim recebeu? Disse-lhe? Amorim, ainda vamos ter problemas. A realização do evento, devia de ter arrastado o envolvimento de muito capital, se de nós ninguém tinha tais importâncias alguém as pusera em jogo por nós, por isso estavam problemas em suspenso. De todos os que se reuniam no gelo, onde tudo se organizara, foram todos chamados à polícia. Ameaçaram de expulsão os implicados. Que pena não os terem expulsado a todos. A mim, ter-me-iam poupado aos horrores a que assisti, e dos quais escapei, ainda hoje não sabendo muito bem como. Mas rapidamente chegaram à conclusão que, a haver premeditação no ato, o fora por aqueles que, abandonaram Luanda providos das importâncias apuradas. Naquele tempo, cento e cinquenta e tal contos era mesmo muito dinheiro. Quando dois meses depois apareceram em Luanda, foram de facto presos e expulsos da colónia. Nunca mais os vi. Depois desta cena assentei! E durante dois anos, o dever cívico me chamou, e fui servir o estado para a Escola de Quadros do Exercito no Huambo