Hoje a moto me levou para a praia de Santiago
Curiosidade: dois
Decorria o
ano de mil novecentos e setenta e três. Hoje saí da fábrica e resolvi ir à
praia. Não tinha uma definida, e depois o que não faltavam eram praias e do melhor que havia. Mas eu como sempre
nestas coisas, nunca colocava na balança o bom senso, e deixei que a mota me
levasse. Foz do rio Cuanza, Morro dos veados, Morro da cruz, Corimba, Samba,
Futungo Ilha etc. Mas desta vez não sei
porquê, pois não era hábito a mota me começou a levar para norte. Mesmo para
fora de portas, passei a Vidrul o Cacuaco, Quifangondo, mal me descuidei estava na lagoa do Panguila.
Parei com a Ivone e estivemos largo tempo a ver se descobríamos jacarés na
lagoa de cima da ponte, a água da dita, não se via dada a quantidade de
nenúfares que a cobria na totalidade. Mas os jacarés tinham ali, um dos seus
habitats e havia-os às dezenas. Já devíamos de estar a cerca de trinta
quilómetros de Luanda. Logo que saíamos da ponte viramos na picada à esquerda,
e foi por aí que seguimos, a mota dirigia-se abertamente e convictamente para a
praia de São Tiago, ouvia falar muita vez da sua beleza, mas nunca me dera para
a demandar por ficar muito fora de portas, o rio Bengo desaguava ali bem perto.
A distância supria bem os cinco seis quilómetros a partir da ponte. A meio do
caminho uma grande receção de macacos beduínos nos aguardava, dezenas deles,
ainda me dei ao luxo de os desafiar, eles em pé faziam uma algaraviada que
metia medo.
Avancei e
cheguei à praia! Era de facto uma praia de sonho! Areia limpa e fina, dum
sossego inimaginável, não se via viva alma, e a praia se estendia a perder de
vista. Talvez sete quilómetros de areal! Só se via ao longe, as grandes colunas
de refinação do petróleo da Petrofina mas já sumidas na bruma.
Entretivemo-nos
à pesca! No silêncio envolvente bem perto de nós Uma tartaruga gigante tira o
pescoço bem fora da água fazendo um ruído medonho e forte ao expirar, medonho pela surpresa, e
durante o tempo que lá estivemos já não mais voltou. Brinquei na praia, com a
Ivone, as ondas de tão pequenas só faziam ao espraiar-se pela areia, um flip
flop e a água límpida e serena, como muitos cenários que vira por Angola fora!
Visões do paraíso na terra. Por isso eu te amo Angola, e quando morrer que os
anjos me levem numa derradeira passagem, pelos locais dessa terra que outrora
me marcaram indelevelmente
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